Prémio Teresa Rosmaninho 2020

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“Num mundo em confinamento continuamos a missão soroptimist”

 SOROPTIMIST INTERNACIONAL

UNIÃO DE PORTUGAL (SIUP)

O Filósofo José Gil alerta: “este confinamento não é um lazer. Mesmo que haja quem consiga transformar este tempo em tempo de ócio, coletivamente isso é impossível. O tumulto e a catástrofe que desabam sobre o nosso país e sobre o mundo todos os dias não podem deixar de nos angustiar. No entanto, além do que a transformação da vida quotidiana traz de novo ao indivíduo – que muitas vezes descobre uma vida nova (mas nunca sossegada e livre) – está a formar-se um outro espaço de comunicação entre as pessoas. Trocam-se e-mails, poemas, mensagens mais pessoais e próximas, textos, frases nunca anteriormente possíveis. Isto implica uma ação – que se revela necessária, às vezes, no fechamento em que estamos. Este espaço coletivo de comunicação (que não é um espaço público ou de opinião pública) vai desenvolver-se e, talvez, modificar um pouco as relações entre as pessoas”… (Público, cit.).

A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si mesmo, mas é uma maneira de pensar e é também uma postura diante do mundo. Perante as palavras do grande filósofo, tudo o que poderia aqui acrescentar seria inútil!

E é também por estas sábias palavras, que é imperioso que os membros do Movimento Soroptimist continuem a compartilhar o compromisso de tornar o mundo um lugar melhor para mulheres e meninas: servimos, rimos, lideramos, celebramos, aceitamos desafios – fazemos a diferença! Em conjunto, podemos realizar sonhos e é por isso que devemos prosseguir e não retrairmo-nos a um mero estado introspectivo – vamos, sim, contribuir para que, neste “espaço coletivo de comunicação”, possamos continuar a nossa missão!

O Movimento Soroptimist foi fundado, em 1921, em Oakland, nos Estados Unidos da América, num período muito conturbado mundialmente, pelo que não será agora que iremos “cruzar os braços”!

TERESA ROSMANINHO

A SOROPTIMIST DEFENSORA DOS DIREITOS HUMANOS

 O PRÉMIO TERESA ROSMANINHO foi instituído em homenagem a Teresa Rosmaninho por iniciativa de Luísa Ramires, sua amiga e admiradora.

Luísa Ramires é uma soroptimista também ela uma mulher de “braços abertos para o mundo”. Médica, especialista em oftalmologia, integrou em 1985 o primeiro Clube Soroptimist de Portugal, o Lisboa Fundador, a convite de uma excecional Mulher, a psicóloga clínica, Maria de Lurdes Bettecourt, que chegou a trabalhar com Egas Moniz. Luisa Ramires foi Presidente da União Soroptimist de Portugal, de entre outras elevadas funções que desempenhou no Movimento Soroptimist, tendo sido madrinha do Clube Porto Invitca, que teve como primeira presidente Teresa Rosmaninho. Luísa Ramires refere-se a Teresa Rosmaninho como uma Mulher “FORTE, DETERMINADA e EMPENHADA”.

Teresa Rosmaninho, deixou-nos aos 56 anos, motivada por uma doença prolongada, mas marcou o seu tempo com um grande empenho na defesa dos direitos das mulheres e com um papel fundamental na luta contra todo o tipo de injustiças e da discriminação em razão do género. Ativista convicta acabou por ingressar no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa, e ingressar num processo revolucionário, aceitando desafios e assumindo responsabilidades, sempre empenhada por um país mais justo. Foi considerada uma pioneira na defesa das vítimas de violência doméstica e abriu o primeiro núcleo da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), no Porto. Entre 1983 e 1996, desempenhou funções no Instituto de Reinserção Social. Chefiou o Projecto INOVAR, e com ela a PSP e GNR receberam formação na área da violência doméstica, abrindo salas de atendimento às vítimas de violência. A para deste seu excecional desempenho, há muito que fazia voluntariado no SI, e, nos últimos tempos, dedicou-se, de forma excecional a abrir caminho na defesa das mulheres.

Teresa Rosmaninho foi a responsável pela fundação da significativa obra Casa Abrigo no Porto destinada a vítimas de violência doméstica, impulsionando também serviços de proximidade com as autarquias. Este projeto tornou-se realidade graças à colaboração dos Serviços Sociais da Câmara Municipal do Porto, cuja presidência muito admirava o trabalho de Teresa no Apoio à Vítima. Também lançou um dos primeiros programas de promoção de igualdade de género nas escolas.

Sobre a Casa Abrigo, em funcionamento desde 2004, falou-nos Catarina Seabra Côrte-Real, filha de Teresa Rosmaninho, também ela uma defensora dos direitos humanos e soroptimist há sete anos, com especial dedicação em dar continuidade a esta instituição. Para além de vários e importantes cargos no SI – Clube Porto Invicta, onde é atualmente presidente, tem um cargo vitalício de Diretora da Casa Abrigo/Porto d’Abrigo, garantindo o bom e normal funcionamento do projeto, dando, assim, uma continuidade ao árduo trabalho e grande empenho de sua mãe. Para melhor exemplificar o quanto tem sido importante a Casa Abrigo para muitas mulheres que passam por esta instituição, transcrevemos um sentido depoimento de uma utentes, que nos foi cedido pela Catarina Seabra Côrte-Real:

“Porto d’Abrigo: tantas lágrimas na chegada, tanto

aperto e angústia. Um sítio estranho, tudo novo,

tanta dor…depois o carinho, a convivência de todas

as horas, e as utentes no mesmo patamar…dores,

sofrimento, lembranças, todo um passado

partilhado, até que nos levantamos e começamos a

acreditar outra vez na vida e que ainda somos

Mulheres e Mães com letra grande…”

(H, 46 anos)

 

O PRÉMIO TERESA ROSMANINHO 2020 – UNIÃO SOROPTIMIST DE PORTUGAL

O Prémio pecuniário é atribuído pela SI União de Portugal a uma Jovem Líder com idade não superior a 40 anos à data da eleição, que se tenha distinguido em actividades associativas e/ou projetos sociais. A apreciação e decisão de Patrícia Moreno, Presidente 2019-2021 da SI-União de Portugal, na atribuição do Prémio Teresa Rosmaninho 2020, após aprovação por unanimidade das delegadas/representantes dos Clubes Soroptimist de Portugal, foi atribuído à jovem Filipa Raimundo, de Setúbal, a quem foi reconhecido esse mérito pelo percurso de vida que aqui resumimos. O projeto Centro de Apoio à Vida “Pequena Grande Mãe”, abrigo inicial de Filipa, tem vindo a ser apoiado pelo Clube Soroptimist de Setúbal, trabalho prosseguido, agora, com Maria João Ferro, Presidente 2019-2021.

UMA HISTÓRIA DE MENINA:

Filipa Raimundo é uma jovem, agora com 29 anos de idade, que teve um percurso tumultuoso numa família disfuncional, com muitas dificuldades a nível económico. Começou a ser acompanhada no Centro de Apoio à Vida “Pequena Grande Mãe” da Caritas Diocesana de Setúbal em março de 2008, com 17 anos, quando lhe foi descoberta uma gravidez de 7 meses, sem vigilância médica, até então. Esta menina grávida, sozinha, sem apoio da família, segundo nos relatou a Cáritas Diocesana de Setúbal, demonstrava uma grande fragilidade e instabilidade emocional quando foi alojada no Centro de Apoio “Pequena Grande Mãe”, desta Instituição. Tudo isto sucedeu quando já tinha acabado o namoro, por estar a ser vítima de violência. O namorado pôs em dúvida a sua paternidade e recusou assumir essa responsabilidade, mas, mais tarde, veio a confirmar-se ser ele o progenitor.

 EMPREENDEDORISMO

 Filipa, passados estes anos de dor e sofrimento, criou e educou o seu lindo menino, o Salvador. Mas Filipa é uma vencedora porque, para além de ter ajudado a mãe numa grave doença, que acabou por ser fatal, sem colo, incompreendida pelas jovens da sua idade, começou a trabalhar na restauração, de manhã, e nas limpezas, à tarde. Após o trabalho frequentou um curso de educação e formação de fotografia, porque era essa a sua paixão, acabando por aceder à equivalência do 9.º ano de escolaridade. E tudo sem descurar o cuidado dedicado ao seu filho. Continuou a lutar para melhorar o seu projeto de vida, demonstrando sempre uma grande responsabilidade e capacidade, Estas características levaram a que fosse contratada para trabalhar na Caritas, onde acabou por concretizar uma nova formação na área da multimédia, o que lhe deu equivalência ao 12.º ano. Mas esta jovem continua com um sonho: dar continuidade aos seus estudos e poder investir na área social. Presentemente, a menina insegura e frágil, com dificuldades em relacionar-se com os adultos, tornou-se numa mulher e mãe responsável, preocupada, interventiva e lutadora, motivada em melhorar a sua vida e do seu menino. Muito acarinhada, continua a manter uma relação de grande proximidade com as técnicas de saúde e todas(os) as(os) que a ajudaram e acompanharam.

Face ao seu percurso de vida tornou-se uma voz fundamental para, com as suas ações interventivas, contribuir para melhorar as vidas e estatutos das mulheres e meninas, incentivando-as à aprendizagem e educação, para atingirem o seu potencial individual e coletivo, visando o emprego e igualdade de género. Luta pela melhoria de condições das mulheres e meninas junto de organizações locais, sensibilizando-as para se associarem à ajuda dessas mulheres e meninas carenciadas, situação tão recorrente na nossa sociedade.

 

A Filipa Raimundo é um grande exemplo que honrará, certamente, a memória de TERESA ROSMANINHO, porque a jovem tem demonstrado ser uma empreendedora e porta-voz, junto da sociedade local, para futuramente tornar-se numa verdadeira líder na defesa das questões e princípios que fazem parte da grande missão “SOROPTIMIST INTERNATIONAL”.

 

 

autora: Rosário Barardo  – Abril /2020

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