Do gabinete para os palcos AS “MÁSCARAS” DE ÁLVARO AMARO

Entrevista conduzida por Joaquim Gouveia

O Dia da Mulher marcou o inicio da carreira a solo de Álvaro Amaro. Depois de vários anos a liderar o grupo de música tradicional “Dialeto”, de Pinhal Novo, o cantautor decidiu-se por uma carreira singular tendo apresentado o seu espetáculo de estreia na Perpétua Azeitonense. “Máscaras” é o título do seu álbum que leva agora para a estrada com o suporte de uma banda de seis elementos tendo já alguns concertos em agenda. Em entrevista à Setúbal Revista, Álvaro Amaro descobre-se na sua nova condição que reparte com a de presidente do município de Palmela.

 

Setúbal RevistaComo é que o autor define o seu álbum? Que “Máscaras”, nos propõe?

Álvaro Amaro – É um álbum que teve primeiramente a intenção de partilhar temas que saíam um pouco do registo da minha experiência musical mais conhecida no “Dialecto”. São temas autobiográficos, de vivências reais e ficcionais, mas resultantes de emoções vividas quando viajo, quando amo, quando reflito atentamente sobre o mundo e o que me rodeia, com uma visão pessoal, não isenta de influências e também uma autoanálise da minha existência. Penso que sendo temas diferentes, dão alguma coerência ao disco na perspetiva de que cada ser tem múltiplas personalidades. Temos vários papéis na vida e sem sermos fingidores somos atores de cada momento. Temos a missão de agir, de intervir, de amar a vida e interpretar o mundo. Este disco é o meu retrato na medida em que estou em cada uma das máscaras.

SERQual a importância de optar por uma carreira a solo?

AA – Não se trata de uma rotura com os “Dialecto”. Trata-se sim de uma necessidade de desconstruir a imagem do autor-compositor de grupo. Quis ser desta vez um cantautor que exterioriza outras correntes musicais para além da música tradicional portuguesa em que tenho trabalhado nos últimos anos, ou seja, estou agora a trabalhar mais apaixonadamente neste novo conceito musical que apresento no meu espetáculo.

SERDe que forma sente a liberdade poética e musical na construção dos seus temas?

AA – O poema é uma máscara e a música um vestido… escrevo e componho sem a preocupação de seguir o que está na moda ou o que parece “politicamente” correto e faço-o sem preconceitos. A minha sobreocupação leva-me a ser pragmático no processo da criação. Vivo muitos sentimentos contraditórios ao longo de cada dia e tenho o hábito de registar cada emoção em tudo, seja na agenda, num talão de multibanco ou até mesmo num documento oficial. Escrevo e trauteio tudo. Este passo criativo é o meu espaço de liberdade. Há uma pessoa múltipla por trás da máscara, do pai de família, do político, do professor. De quando em vez preciso de parar e de me isolar para criar.

SERSente-se um representante do pop/folk nacional?

AA – Não me sinto representante mas gosto e assumo esse registo e identifico as influências que tenho. Tudo é um intertexto. Sobretudo não me submeto à necessidade de respeitar este ou aquele estilo. Componho aquilo que liberta, aquilo que tenho necessidade e me dá prazer, mas que só chega ao êxtase quando é partilhado com o público. Só atinjo o clímax no palco.

SERComo está a ser preparara a tour “Máscaras”?

AA – Com cuidados acrescidos em toda a produção e com um alinhamento que se adapta a cada local de espetáculo. Tenho já espetáculos até Outubro. Não tenho booking nem management e ainda assim estou a conseguir trabalhar, o que significa que há um entusiasmo em torno desta tour.

SERVocê conta com uma banda onde pontificam músicos muito experimentados em concertos ao vivo como são os casos particulares de Armindo Neves e Fernando Júdice. Isso é uma vantagem…

AA– Conseguimos criar esta banda suporte em pouco tempo. Todos gostam do projeto. Para além de grandes profissionais somos um grupo de amigos que até tem suplentes. É uma equipa da liga dos campeões com um grande banco.

SERA coralista Rute Tapadas é um excelente apoio vocal…

AA– A Rute tem uma voz espetacular, é um diamante que Palmela já conhecia. É também uma excelente amiga e uma pessoa generosa e humilde. Tem um grande valor. Penso que ligamos muito bem até nos duetos. Procuro dar-lhe destaque no espetáculo porque ela merece.

SERQue imagem tem da música que atualmente se faz no nosso país?

AA– Creio que a música em Portugal evoluiu muito. Existem hoje projetos de grande qualidade, grandes vozes e grandes instrumentistas. No entanto, são os mídia que na maior parte dos casos acabam por privilegiar projetos que nem sempre, se calhar, são os melhores. Por outro lado, há projetos de qualidade que nem sempre são bem promovidos. O que se nota é que o espaço de divulgação está, por vezes, comprometido como é o caso das playlist onde há interesses que visam estereotipar o gosto das pessoas e infelizmente têm-no conseguido não dando liberdade de escolha ao público.

SERComo define o público nacional?

AA– Acho que há público para todos os projetos com gostos diversificados. Se o público tiver oportunidade de conhecer todos os projetos eleva o seu grau de apreciação e de exigência.

SERÉ grande o investimento numa carreira a solo onde se contam os discos, os telediscos, a promoção e outros aspetos fundamentais. É o lado caro da cultura portuguesa?

AA– Se quisermos ir muito longe com uma carreira é necessário um investimento alargado em várias dimensões como no marketing, televisão, rádios, redes sociais, sites, bookings, etc.. Tive o privilégio de ir construindo o meu projeto a pouco e pouco com a ajuda de muitos amigos que participaram neste disco, com destaque para o Paulo Cavaco, que o produziu comigo.

SERComo é que conjuga a vida política com a carreira artística?

AA– É preciso muito rigor, muita disciplina, tolerância da família, apoio dos amigos e muita determinação. A música também faz parte da minha vida e como qualquer comum mortal também preciso de comer, respirar, fazer amor, etc.. logo também preciso de fazer música. E nesta necessidade de viver também tenho a obrigação de intervir civicamente e, no presente, com a missão de intervir politicamente como presidente de câmara, procurando fazer bem ao território onde nasci, cresci e que amo.

 

 

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