O Borda d´Água é um dos últimos exemplos de publicações do início do século passado.
Editado pela Editorial Minerva, desde 1929, continua a ser impresso numa tipografia tradicional calculando-se que tenha uma tiragem de 100.000 exemplares vendidos a 2,10 euros cada, mantendo inalterável o seu sucesso de vendas.
Mantém, ainda, a mesma e interessante linha editorial desde a sua fundação sendo o “homem da cartola” a sua imagem de marca, afinal, reconhecida em todo o país.
Apresenta-se com um “repertório útil a toda a gente”. O almanaque inclui prognósticos para o ano, conselhos práticos baseados na sabedoria popular (provérbios, mezinhas, etc.), na ciência e na astrologia. Previsões meteorológicas, previsões para a agricultura, épocas de sementeiras e outros trabalhos agrícolas, fases da lua, informação sobre o mar e as marés, calendário, efemérides, etc..
Sabe-se que as previsões foram-se aprimorando com o decorrer dos anos pelo que se tornam quase fiáveis constituindo diário de bordo de muitos agricultores e pescadores.
Mas as histórias mais ou menos bizarras também fazem parte desta publicação como a que aconteceu com a feira de determinada aldeia para a qual o Borda D´Água tinha previsto um dia de intensa chuva o que levou feirantes e público a desistiram de comparecer no recinto. Na verdade o que se verificou é que o dia esteve com um sol radioso levando a publicação a cair quase na desgraça por aquelas bandas. Por isso no ano seguinte e na mesma data o Borda D´Água fez uma previsão onde anunciava chuva para toda a região menos naquela aldeia onde o sol iria dar largas à sua graça.
Muitas outras histórias se contam em torno deste almanaque, umas com mais aceitação e outras nem tanto.
Mas a resistência quanto ao formato da publicação é, sem dúvida, algo que pode trazer a sua editora com razões para continuar a apostar na publicação que, quanto ao género será uma das raras publicadas em estilo de almanaque.
Almanaque ou Almanach (do árabe al-manākh), é uma publicação originalmente anual que reúne um calendário com datas das principais efemérides astronómicas como os solstícios e equinócios e as fases lunares. Atualmente os almanaques englobam outras informações com atualizações periódicas específicas a vários campos do conhecimento.
Segundo Correia e Guerreiro, o primeiro almanaque editado em Portugal, data de 1496, o Almanach Perpetuum, de Abraão Zaculo, impresso em Leiria. Fornecia tábuas logarítmicas e outras indicações com respeito ao curso do sol para cada dia do ano. As informações eram para ser utilizadas em concordância com os instrumentos de medição astronómicos.
No século XIX, sobretudo na sua segunda metade, os almanaques impuseram-se em quantidade, com incontestável importância, se bem que completamente distanciados do avanço científico e técnico. De acordo com os seus públicos, podem ser um pequeno folheto, dirigido à população rural, e dos arredores das cidades, ou, então, aumentar o número de páginas, tornando-se num instrumento de divulgação de conhecimentos quer para um público geral, mais burguês e citadino, quer junto de algumas camadas sociais diferenciadas por ideários políticos, religiosos ou por outros interesses muito específicos.
Com um reduzido número de páginas, que o próprio comprador tem que separar, cortanto-as, quase sem ilustrações e impresso a preto e branco, a publicação continua ao alcance de todos os potenciais interessados. O Borda d´Água sempre teve um público alvo espalhado entre o litoral e o interior do país.
No fundo o seu conteúdo forma um repertório vasto de interesse geral tendo mesmo conseguido alcançar um público fiel que hoje não dispensa esta publicação.
O almanaque está à venda nas papelarias, postos de abastecimento e, em muitos casos, nas mãos de emigrantes de origem romena que os vendem nas esplanadas dos cafés ou nas paragens dos autocarros.