Entrevista de Pedro Conceição
Fomos à procura de mais um dos Setubalenses que andam lá fora, pelo mundo inteiro, a espalhar a sua magia. O Diogo recebeu-nos com o seu habitual carinho e simpatia. Fomos com o intuito de saber do seu novo projecto, lá para os lados das Caraíbas mas, obviamente que, aproveitámos para pedir mais algumas opiniões e detalhes do seu percurso profissional.
Falou-nos dos tempos bem passados na ginástica do Vitória, da sua carreira no desporto e da passagem para o mundo das artes, nomeadamente de como entrou para a família do famoso Cirque du Soleil, onde teve papéis de destaque nos espetáculos “Alegria” e “Ovo”. Partilhamos agora tudo com os nossos leitores da Setúbal Revista.
SER: Diogo, antes de mais, obrigado pela entrevista exclusiva à Setúbal Revista. Indo ao início da tua carreira, como tudo começou?
Diogo: Se formos ver bem lá atrás, começou tudo no Vitória. Comecei lá a fazer ginástica, ganhei aí os primeiros títulos de campeão nacional e depois, a partir daí, a minha vida foi-se moldando sempre à volta do desporto. A dada altura, para continuar a evoluir tive que sair do Vitória, primeiro para Lisboa e depois para Vila do Conde, onde vivi 8 anos.
SER: Que momento mais te marcou no desporto?
Diogo: Durante a minha carreira desportiva fui algumas vezes campeão nacional e participei em oito campeonatos da Europa e oito campeonatos do Mundo. Em 2001 ganhei uma medalha internacional na modalidade de duplo mini trampolim, que é algo que nunca esquecerei. Mas são tantos os momentos que é difícil salientar um especial e em particular. Acho que o mais marcante mesmo é que, genericamente, a ginástica deu-me uma experiência de vida que não se aprende em nenhuma escola ou faculdade. Conhecer pessoas de todo o mundo, viajar por todo o lado, sair do meu país, ver outras realidades, são coisas únicas e marcantes que a ginástica me deu.
SER: Qual a imagem que te ficou do Vitória?
Diogo: Tenho as melhores recordações. Tive uma infância fantástica e o Vitória fez parte disso mesmo. Ir todos os dias para a ginástica não era um sacrifício, era um prazer. Eu passava lá horas no ginásio. Quando não tinha treino, ficava a ver os treinos dos colegas. Tenho só pena que as condições não tenham evoluído, que esteja tudo mais ou menos igual ao que era quando eu saí, há muitos anos atrás. Infelizmente a cidade não investiu num lugar melhor para a ginástica. Acho que eles são uns valentes em continuarem mas está tudo igual e isso não é suficientemente bom para o desporto na cidade. A própria população, pais e simpatizantes do desporto, deveria mobilizar-se para fazer como nos Estados Unidos, modificando um qualquer armazém grande e investir somente nas componentes básicas, como o aquecimento e balneários, e pronto. Um “espaço gigante” com condições para trabalhar e evoluir as modalidades. Mas teriam que ser os próprios Setubalenses a estarem dispostos a fazer essa aposta. Sei que é difícil, mas é assim que se faz lá fora.
SER: E agora que estás mais distante, como olhas para Portugal?
Diogo: Portugal é um país fantástico. As pessoas teriam melhor essa noção se fossem viver para certos países, por uns tempos. Nessa altura, dá-se verdadeiro valor ao que temos em Portugal.
SER: E Setúbal? Tens vindo a Setúbal ultimamente?
Diogo: Sim, estive há pouco tempo em Setúbal. Acho que a cidade é fantástica e está a ficar ainda melhor.
SER: Como se passa do desporto para o mundo da arte?
Diogo: Foi através de um amigo do desporto que já fazia alguns espetáculos. Ele desafiou-me a enviar uns vídeos para uma criação nova que iria haver no Casino do Estoril. Ao mesmo tempo, uma vez que tinha tido o trabalho de recolher e preparar esses vídeos, lembrei-me de os enviar também para o Circo (Cirque du Soleil). O director da produção no Casino viu os meus vídeos e fui seleccionado para fazer esse espetáculo. Sensivelmente seis meses após estar em cena no Casino, fui contactado pelo “Circo” para me perguntar se eu estava interessado em fazer um contrato de três meses, mas somente para fazer uma formação geral em Montreal. Apesar de ser “só” uma formação, deixei tudo e fui para Montreal, porque achei que teria que fazer essa experiência. Passado um mês, ofereceram-me um outro contrato, mas agora já para fazer parte de um dos espetáculos do Circo.
SER: É verdade o cliché que depois “é tudo muito rápido”?
Diogo: Sim, totalmente. Foi tudo a correr. Vim a casa cinco dias para tratar das coisas e quando dei por mim já estava a participar num show, já ia fazer uma tourné e só parei em julho de 2015, então, já muito cansado. Foram sete anos a viver em hotéis e apartamentos, em várias cidades. Mas foi muito interessante, adorei. Foi uma experiência insubstituível. Gostei muito!
SER: E aí decides fazer mais uma mudança de rumo…
Diogo: Sim. Tinha que começar a pensar no futuro. Esta actividade é muito física e não é possível fazer isto para sempre. Comecei por fazer alguns trabalhos temporários de direcção. Depois apareceu a oportunidade de dirigir um novo projecto, de nome “Criactive by Cirque du Soleil”, no Club Med, em Punta Cana, que é um dos maiores da cadeia Club Med. Sou actualmente gerente e director artístico do projecto.
SER: No que consiste esse projecto?
Diogo: O Criactive é um projecto de actividades circenses com o espírito do Cirque du Soleil, onde os hóspedes podem experimentar vários exercícios como parte integrante do seu pacote “tudo incluído” disponibilizado pelo Club Med. Uma vez por semana fazemos uma actuação de demonstração para os hóspedes do hotel.
SER: Como mudou o teu dia a dia?
Diogo: Nesta altura a minha função consiste maioritariamente na gestão de recursos humanos. Existe uma componente artística mas que, neste momento, me ocupa somente cerca de vinte por cento do meu tempo. Sou responsável por garantir que tudo funciona de acordo com o planeado e por isso, no meu dia a dia, tenho que me ocupar maioritariamente com tarefas de gestão.
SER: Passa-te pela cabeça voltar a Portugal?
Diogo: Uma coisa que aprendi no Circo é que não podemos fazer muitos planos de longo prazo. Não sei se volto nem quando. Vivemos dos melhores projectos que nos vão aparecendo. Na verdade, não sei o que irei fazer no futuro. Nem gosto de perder muito tempo a pensar nisso.
SER: Mas achas que será possível fazer um projecto criativo mais ambicioso em Portugal?
Diogo: Sei que existem bons projectos em Portugal. O Chapitô existe há muito tempo, tem um papel importante e continua a melhorar. Sei que existe também uma escola de circo na Maia, mas estou um pouco por fora dos detalhes desse projecto. Tenho um grupo de amigos e por vezes falamos nisso de “um dia” trazer qualquer coisa de diferente para Portugal. Mas ainda nada de concreto ou que possa estar em vias de poder ser apresentado.